GRAÇAS A DEUS
GRAÇAS A DEUS
Os congás se abriram para a suprema invocação.
Sete espíritos tocando os troncos ocos. As senzalas se preparam para receber os convidados. A mesa estava farta. Tudo pronto.
Cada espírito representa um congá que baixa na terra representando seu Orixá.
Quisera o bom Deus que tivéssemos a força dos ancestrais, das benditas curas do espírito e do corpo físico e das almas enfraquecidas.
Eu fui convidado a sentir o aroma das matas que veio pela Aruanda como se fosse um incenso penetrando pelo eu interior. Eu respirava e tudo se modificava. Respirar, soltar. Respirar fundo e soltar pra fora tudo que não presta.
Não podemos carregar as dores que não se curam. A dor não tem impregnação do amor e sempre vão achar um culpado. Ninguém quer assumir a sua própria dor.
Os tambores cantavam no silêncio dos espíritos que ouviam como melodia cadenciada chamando para a festa. Os senhorios atenderam ao chamado e se sentaram a cabeceira da mesa. Os velhos nagôs de ontem no hoje.
Respeito pela tradição. Não que se repita os eventos, mas para exemplificar a evolução.
Os velhos contemporâneos agora na mesma sintonia. Brancos e pretos sem distinção da cor ou costumes. São todos irmãos, filhos de Deus.
Eu não me sentei. Não era a minha deixa. Fiquei em pé observando a felicidade de um povo pagador de promessas. Os congás, sete, unificados em um na força de Oxalá.
Enquanto a reunião acontecia às diretrizes da verdade ia se contemplando com a necessidade. Quem merecer vai ter.
Fechei meus olhos do espírito e naveguei pelos sete mares. Cada um representa aqui seu mundo astral. Forças diretas direcionadas a esta pátria amada e gentil. Sete forças da comunhão de Deus com os homens.
A terra sendo purificada pelo fogo. Como João Batista, quando o habi chegar serão batizados pelo fogo. Seria uma profetização ou visão do futuro. Pois Jesus foi batizado com água e quando seremos batizados pelo fogo.
As intempéries dos homens enfurecidos já atuam no destino da terra. O fogo virá do céu, terra, e não do céu espiritual. Podem destruir esta terra, mas nunca destruirão o céu espiritual.
Eu viajava nos meus pensamentos e nem queria voltar.
_ Meu coronelzinho não quer se sentar!
Pai João me puxou de volta. Foi como naquela era dos oito que impediu a morte pela revolta dos escravos. Ali este nego velho colocou suas mãos para impedir o linchamento do seu coronelzinho.
Eu abri meus olhos e todos me olhando. Sorriam. Eu vi um banquinho de tronco e me sentei.
Os velhos sábios e suas palavras de amor e respeito.
Eu vejo hoje o amanhecer tão distante da verdade. Não consigo ver os jovens cultuando seus pais como pais. Poucos que ainda mantém a tradição de benção.
Deus te abençoe meu filho!
Estas palavras são como imposição ao destino carmico, porque quando um pai ou mãe te deseja boas coisas tudo pode acontecer. Você se reveste da energia do verdadeiro amor.
Não são velhos ignorantes, mas são velhos amores de uma vida.
Eu estava sentado, mas minha visão teimava em voltar para a janela temporal. Sempre de olhos fechados eu via mundos se alternando. Cego na terra, mas visionário no céu.
Os tambores tocavam sem parar. Troca de correspondência. Chamamento das tradições. Reciprocidade.
Seguraram minha mão direita. Olhei e era Janaína, minha filha. Encostei minha cabeça em seu ombro. Chorei, há, como chorei. Minha filha estava ali comigo. Minha eterna gratidão.
Eu ainda não podia me servir. Ainda sou físico e vivo pelo físico. Há! Como eu queria me servir. Aquilo estava tão bom.
Obedecendo a tradição das leis eu senti pelo aroma o gosto. Era como se eu estivesse saboreando aqueles manjares.
Os espíritos se alimentam pela energia.
Depois que tudo se encerrou eu acordei do meu sonho espiritual. Estas viagens que somente fazemos quando acreditamos em nós mesmos.
Salve Deus!
Adjunto Apurê
An/Un
20.01 2024